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- William Withering em Lisboa cartas inéditas ao Abade Correia da Serra
William Withering em Lisboa cartas inéditas ao Abade Correia da Serra
PIMENTA, João Araújo - William Withering em Lisboa cartas inéditas ao Abade Correia da Serra. [Porto]: Figueirinhas, 2007. 115 p. ISBN 978-972-661-208-7.
- Preço: €10,00 (inclui o valor da taxa de IVA legal em vigor)
- Como encomendar: contacte-nos através do e-mail: arquivo@cm-pontedelima.pt
Prefácio
Para falar de dois grandes Homens não se pode ser pequeno. Este ensaio do Dr. João de Araújo Pimenta sobre as relações entre W. Withering e o Abade Correia da Serra comprova-o e mostra, mais uma vez que, quando se é um verdadeiro médico, é-se sempre mais do que isso.
De Withering sabíamos nós, desde os bancos da Faculdade, que ele tinha sido o criador de uma das poucas terapêuticas eficazes que, no nosso tempo de estudantes, nos eram apresentadas como disponíveis para uso clínico. No seu livro An account of the fox glove and some of its medical uses; with practical remarks on dropsy and other diseases, publicado em 1785, Withering disse tudo o que haveria de o tornar célebre. O Professor Malafaya Baptista, personalidade distinta que foi nosso professor de Farmacologia, gastou uma boa porção do seu tempo letivo para nos dar a noção da importância dos digitálicos na terapêutica da insuficiência cardíaca e Withering era um dos seus heróis. A partir da dedaleira, Digitalis Purpúrea, L., de seu nome científico, essa planta que com as suas flores contribui para o colorido roxo da primavera dos nossos campos, Withering retirou um princípio ativo a que chamou digitalina, que passou a ser o remédio animador da esperança de milhões de doentes do coração. Com esta descoberta Withering ultrapassou os limites da morte para entrar no elenco dos imortais da ciência.
Bastava ter sido considerado amigo por esta figura grada do mundo científico para que o Abade Correia da Serra não pudesse deixar de ter sido uma personalidade marcante do seu tempo. Mas não foi só isso! Pelo seu mérito real este padre, pouco eclesiástico, conquistou um prestígio que, sem dúvidas de ninguém, o situava à altura do seu amigo. É que houve reciprocidade na estima, na admiração e no reconhecimento do mérito. O Abade Correia da Serra foi alguém de quem Gilmer disse: He is the most extraordinary man now living, or perhaps who has ever lived!
Ainda que haja na soma desta afirmação uma parcela de exagero, natural quando a serenidade da razão não consegue travar o tumulto dos sentimentos, não se pode deixar de admitir que o Abade Correia da Serra foi uma figura ímpar da ciência portuguesa e um ínclito cidadão do Mundo do século XVIII Todos os livros de história o registam, não poupando adjetivos para classificar este filho de chão português.
Estas são razões que bastam e sobram para justificar a curiosidade e o entusiasmo do meu estimado condiscípulo que é daqueles que não param para, repousar. Descansam mudando de ocupação. Até os fastios faz render. Soube da existência dos documentos, procurou-os e foi longe para os encontrar; traduziu e interpretou os seus textos; analisou sequências e corrigiu datas; apurou factos e estabeleceu conexões; e, por fim, vem transmitir o produto da sua investigação num texto em que deixa a sua marca literária. E tudo por amor ao conhecimento e à sua divulgação.
A paciência, o interesse obstinado, a atenção culta, a análise devota, a sagacidade interpretativa são, deste modo, coroadas pela consciência de realização pessoal e da recusa à vulgaridade.
Sem pretensões, sem pressas, sem angústias, este médico acrescenta, assim, à sua vida clínica os afagos de mais esta conquista que, dando-lhe felicidade, nos dá, a nós, leitores, uma oportunidade de entrar, por uma porta aberta, na intimidade de episódios e de vidas que contribuem para os inscrever na história.
Porto, 30 de novembro de 2006
Serafim Guimarães