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Figuras Limianas

02 Outubro 2009

ESGOTADO

ABREU, João Gomes, coord. - Figuras Limianas. Ponte de Lima: Município de Ponte de Lima, 2008. 406 p. ISBN 978-972-8846-15-2.

  • Preço: €20,00 (inclui o valor da taxa de IVA legal em vigor)
  • Como encomendar: contacte-nos através do e-mail: arquivo@cm-pontedelima.pt

Introdução

Sem o Homem não há Património, pois ele é o veículo da sua transmissão e o agente da sua transformação. Mas o Homem não é apenas uma condicionante do Património, ele próprio é a sua expressão viva. Faz, por isso, todo o sentido, que a rememoração dos testemunhos do passado inclua, também, os seus próprios personagens e mais ainda quando estes se assumem como exemplos de vida, ou foram protagonistas em momentos históricos ou nos legaram uma obra de referência.

Ora, uma das maiores riquezas de Ponte de Lima é precisamente o seu Património Humano, rico de valores morais, de almas grandes e corajosas, de espíritos letrados e artistas, de gente que participou em todos os lances da História Pátria, sempre na linha da frente e muitas vezes nos dois lados da trincheira. Poucos homens ficaram por cá. Serviram na Religião, na Política e na Diplomacia, nas Armas, nas Letras e nas Artes, na Ciência e no Ensino, no Comércio e na Indústria. Correram as sete partidas, por todo o mundo registaram a sua presença, fazendo questão de afirmar sempre a sua naturalidade, como naquelas sepulturas quinhentistas do mosteiro franciscano de Baçaim, na velha Índia, cujos epitáfios, hoje cobertos pelo capim, afirmam com todas as letras que os jazentes são naturais de Ponte de Lima.

É justo, pois, e mais que justo é um dever de consciência, que prestemos a todos esses Limianos que fizeram a História desta Terra, a homenagem que merecem por nos terem legado o privilégio de podermos hoje invocar uma naturalidade invejável.

Mas quem foram então esses Limianos? Distinguiram-se todos por igual? Floresceram em todas as épocas? Houveram de emigrar para que se cumprisse o seu fado?

Nas investigações de que me socorri achei-os em todas as partes, em todos os tempos e em todas as circunstâncias. Vieram na Alta Idade Média como peregrinos a Santiago e por cá ficaram depois de cumprido o voto; encheram de trovas as páginas dos cancioneiros; fundaram mosteiros para diversas Ordens e neles professaram; missionaram em África, no Brasil, na Índia, na China e no Japão e com um tão grande espírito de desapego e abnegação, que a um deles valeu já a glorificação nos altares; viajaram, comerciaram, deixaram memórias que ainda hoje perduram; levaram longe a cultura portuguesa e, curiosamente, foram até o ensejo para a publicação do primeiro livro na Índia e o primeiro livro no Brasil; escreveram, criaram arte, compuseram música; ensinaram o que sabiam em todos os níveis da Instrução, quatro chegaram a Reitores da Universidade e três estão estreitamente relacionados com a criação das maiores bibliotecas públicas do país, a de Lisboa, a do Porto e a de Braga; e estiveram presentes em todos os momentos difíceis de afirmação nacional, aquém e além-mar em todo o mundo, onde verteram o seu sangue e deram a vida pelas suas convicções.

Com algum esforço de síntese e critérios bem apurados, selecionei centena e meia de Figuras notáveis do séc. XII ao séc. XX, com todo o tipo de atividades, mas todas firmemente enraizados em Ponte de Lima, fosse por nascimento ou relação familiar, fosse por mera opção residencial ou pelo desempenho continuado da função e atividade que exerceram.

Uns nasceram, efetivamente, neste concelho; outros, quis o acaso que tivessem nascido fora dele, mas assumiram sempre a afinidade herdada de pais e avós; outros, ainda, para cá vieram e sedimentaram ao longo dos anos uma relação sentimental tão forte, que suplantou até a do berço natural e aqui lançaram amarras e ancoraram a sua vida e a dos seus.

De todos tinha já informação bastante para lhes aquilatar o mérito, mas não a suficiente para de cada um redigir uma biografia a preceito. Havia, pois, que achar quem estivesse habilitado a fazê-lo, já que o tempo aprazado não permitia enveredar por investigações aturadas sobre algumas personagens de que dispunha apenas de vagos e imprecisos detalhes. Retiradas três dezenas de biografias que tomei à minha conta, coube-me a tarefa de encontrar a pessoa certa para cada uma das restantes, fornecer-lhe a informação de base e acompanhar a evolução dos trabalhos. E assim se reuniram cinquenta colaboradores de reputada erudição, por quem as reparti de acordo com as disponibilidades e especialidades de cada um.

Foi da minha inteira responsabilidade a ponderação do desenvolvimento a dar a cada Figura, já que o critério da seleção me fora também confiado, ponderação que se traduzia no perfilamento e na extensão dos textos. Mas chamei também a mim a escolha e a obtenção da iconografia e a redação das respetivas legendas, porque já dispunha, à partida, de um farto manancial de imagens e de objetos raros e inéditos que tinham nesta obra a melhor ocasião para serem convenientemente apresentados.

Outro aspeto que não descurei foi o da eventual necessidade de acrescentar informação complementar aos textos dos Autores que, sem prejuízo destes e muito menos pondo em causa o seu conteúdo, reforçasse a ancoragem das Figuras em Ponte de Lima ou contivesse pistas que permitissem futuros desenvolvimentos das questões abordadas. Sempre que isso aconteceu, assumi, naturalmente, a responsabilidade das apostilas com a indicação de se tratar de uma Nota do Coordenador (Nota do Coord.). E fui até mais longe, complementando, em alguns casos, a bibliografia indicada pelo Autor, com uma ou outra obra que me pareceu significativa, alargando, assim, o conceito de bibliografia de recurso para o de bibliografia de referência.

A imagem mental que esboçamos quando somos confrontados com um conjunto de circunstâncias da vida de um indivíduo, nem sempre se ajusta à realidade de um retrato que desconhecemos e mais tarde se nos revela. Achei, por isso, que se justificava um esforço para a obtenção dos retratos das personagens apresentadas, tarefa naturalmente complexa e muitas vezes inexequível, já que apenas metade delas tinha alcançado ou vivido a época em que a fotografia se generalizou. Mesmo assim, socorrendo-me de pinturas, de gravuras e de desenhos, foi possível estender a cobertura a dois terços da galeria.

Situação semelhante se verificou com a recolha dos autógrafos, que depois se cingiu apenas à assinatura. Se a fisionomia é muitas vezes o espelho da alma, a expressão escrita, também ela, traduz muito do carácter do indivíduo e revela tendências, modas e aptidões que ajudam a enquadrá-lo e a compreender a sua relação com o tempo e com o espaço. Aqui fui, naturalmente, mais feliz, conseguindo uma cobertura que ultrapassou quatro quintos do conjunto e mais longe iria se tivesse o tempo por minha conta.

Valeu a pena o trabalho, porque se desmistificaram tradições fantasiosas, identificaram-sepersonagens míticas e constituiu-se um valioso repositório de imagens, muitas absolutamente inéditas e em risco de se perderem. Criou-se, assim, uma compilação estruturada e * Victor Hugo, Hernani, Act. III, Cen. VI. credível de dados biográficos das mais eminentes Figuras de Ponte de Lima, que é sempre um ponto de partida útil para investigações mais arrojadas e permite, de futuro, balizar com maior conhecimento de causa a História da nossa Terra e evocá-la com outro sentido de oportunidade.

Estou satisfeito com a empresa, mas não apenas pelo resultado plasmado em livro. Creio bem que este tipo de abordagem da História Local, em que se privilegiam os seus atores, procurando conhecê-los intimamente, contribui para uma visão mais completa da sociedade em que se integraram e dos acontecimentos em que estiveram envolvidos.

Mas curioso, é que nem sempre as personagens que julgamos terem sido decisivas no processo histórico, o foram de forma exclusiva. Há muitas outras figuras que a História regista apenas como simples figurantes e que foram, afinal, peças fulcrais e determinantes no desenrolar dos acontecimentos. Não conheceram a ribalta, estiveram sempre atrás do pano, mas sem eles a peça teria tido outro enredo e outro epílogo.

Não me contento com o chavão de Victor Hugo* – J’en passe et des meilleurs! É justo e, naturalmente, interessante e proveitoso, que os estudos monográficos sejam mais circunstanciados e alarguem o espectro das suas investigações. Há um alfobre imenso de informações interessantíssimas referenciadas ao indivíduo, às famílias, às instituições e à sociedade em geral, que é necessário colher, triar e discutir e a nossa pequena História ganhará muito com esse esforço. Quem sabe se não justificará até uma revisão deste trabalho, com o seu alargamento a outras Figuras? Com o meu entusiasmo, contem sempre!


Casa do Outeiro, maio de 2008

João Gomes d’Abreu
Coordenador de Figuras Limianas
 
Victor Hugo, Hernani, Act. III, Cen. VI.
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