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Poesias completas

12 Janeiro 2004

ESGOTADO

FEIJÓ, António - Poesias completas. [Porto] : Caixotim, 2004. 484 p. ISBN 972-8651-40-6

  • Preço: €18,00 (inclui o valor da taxa de IVA legal em vigor)
  • Como encomendar: contacte-nos através do e-mail: arquivo@cm-pontedelima.pt
  • Nota: Pode ser adquirida a caixa "Poesias completas" e "Poesias dispersas e inéditas" de António Feijó, por €45,00.

Prefácio

Antônio Feijô: exemplaridade
de uma poética caleidoscôpica

O homem, o diplomata e o poeta
1.1. A mais expressiva e adequada homenagem que pode­ mos dedicar a um poeta da estatura de António Feijó (Ponte de Lima, 1859 - Estocolmo, 1917) é colocar a sua obra ao alcance dos leitores atuais, reeditando a já esgotada edição das suas Poesias Completas, justamente no momento (1 de junho de 2004) em que se completam 145 anos sobre o seu nascimento.

A poesia deste autor limiano reveste-se de uma considerável importância no espaço literário da transição entre os dois séculos. Além disso, tem-se escrito bastante sobre a obra de Feijó, mais do que à primeira vista poderíamos imaginar. Em todo o caso, são muitas vezes pequenos trabalhos históricos ou críticos, de incidência parcelar, visando, por exemplo, aspetos muito delimitados do percurso biográfico, da criação poética, da publicação de dispersos, da relação com outros escritores ou da vasta epistolografia.

Excecionalmente, a obra poética de Feijó tem beneficiado quer de raras visões de síntese, quer ainda de perspicazes juízos de outros autores que, além de críticos, têm a luminosidade própria dos criadores. Apenas a título de exemplo, António Nobre refere-se a Feijó como "impecável artista"; Antero de Quental, em registo epistolar, louva-lhe "uma mestria de forma verdadeiramente rara ": Alberto de Oliveira distingue-o como "poeta lírico no mais alto sentido"; Delfim Guimarães considera-o "artista primoroso"; e Eugénio de Castro celebra o poeta limiano no soneto "Amor e Glória", tal como Teófilo Carneiro no soneto "O Regresso do Rouxinol".

Mais recentemente, Urbano Tavares Rodrigues considera António Feijó "o mais autêntico poeta da geração parnasiana de 80"; António Manuel Couto Viana cataloga-o como "grande poeta português"; e David Mourão-Ferreira aprecia-o como um poeta de vasta paleta estética e de difícil filiação.
Afinal, quem é este poeta de substrato romântico e de límpida forma clássica? Que obra(s) nos legou, para merecer tão grandes elogios, mas estar hoje, ao mesmo tempo e infelizmente, tão marginalizado e esquecido? Que lugar ocupa na história literária portuguesa? Quais os códigos estéticos dominantes na sua escrita poética?

É a estas e outras perguntas que procuraremos responder seguidamente. Esta nova edição constitui, pois, o adequado pretexto para uma brevíssima, mas pertinente revisão histórico­ -crítica, de propósitos introdutórios, de uma poética caleidos­cópicae de carácter manifestamente sincrético, em constante movimento por entre as várias orientações estético-literárias que marcaram a poesia finissecular do último quartel do séc. XIX e dos primórdios de novecentos.

Com as naturais limitações de espaço e depois de sucintos dados biográficos sobre António Feijó, pretende-se apresentar sumariamente a evolução estética da obra poética do autor; enquadrar o lugar deste poeta limiano na história literária portuguesa; enfim, sistematizar, no quadro da receção crítica da sua poesia, uma atualizada bibliografia passiva.

1.2. António Joaquim de Castro Feijó nasceu em Ponte de Lima, em 1 de junho de 1859. Oriundo de velha família aristo­ crática minhota - filho de José Agostinho de Castro e 50 usa Correia Feijó e de Joana do Nascimento Malheiro Pereira de Lima e 5ampaio -, recebeu uma distinta educação para a época. Depois dos estudos preparatórios em Braga, matriculou-se em Direito na Universidade de Coimbra, formação concluída em 1883.

Desde os tempos de estudante, colaborou ativamente em várias publicações (jornais, revistas, álbuns, etc.), onde foi publicando poemas, que mais tarde recolherá, muito seletivamente, nos seus livros de poesia.

De acordo com o vivo testemunho de vários amigos e outros contemporâneos, António Feijó mostrou-se sempre um fidalgo culto e distinto, espirituoso e expansivo. Abundam os testemunhos que realçam a lucidez irónica e a saudável alegria, verdadeiramente contagiantes. Neste âmbito, são inúmeros os ditos graciosos e as situações anedóticas protagonizadas pelo poeta e diplomata limiano, homem folgazão, de convívio desejado, repetidamente alcunhado de "opíparo Feijó" (Guerra Junqueiro).

A figura do divertido estudante António Feijó não podia faltar no vasto quadro evocativo de Trindade Coelho, em In Illo Tempore (Estudantes, Lentes e Futricas), de 1902, independentemente de serem rigorosas as atribuições de versos ao poeta do Lima. Além da memorável história dos carecas, ficou proverbial, também, o jocoso caso do melão de Vilariça, descrita no poema escrito em parceria com Guerra Junqueiro. Como são famosas as suas prodigalidades e paixões em matéria gastronómica, próprias de um requintado gourmet e de um homem apostado em fruir epicuristicamente os prazeres da mesa. Que o diga D. Emília de Castro, afetuosa esposa de Eça de Queiroz, preocupada com a frágil saúde do marido, a qual chega a individualizar, na sua correspondência, o "temível" Feijó como responsável por desencaminhar os amigos íntimos para memoráveis e desmedidos repastos gastronómicos.

Veja-se adiante, e ainda sobre este tópico da personalidade de Feijó, a título de elucidativo exemplo, o retrato moral que dele traça o amigo Íntimo Luís de Magalhães, no prefácio a Sol de Inverno: "O seu contacto dava alegria, dava saúde. Sob a sugestão do seu espírito parecia que tudo se animava e resplandecia, que a própria existência se tornava mais amável, mais apetecível. De toda a sua pessoa irradiava a joie de vivre ".

No efervescente contexto histórico-cultural do último quartel do séc. XIX, a partir do ambiente coimbrão, António Feijó relacionou-se com os espíritos mais esclarecidos do seu tempo, dentro e fora da poesia: Antero de Quental e Eça de Queiroz, Conde de Arnoso e Conde de Sabugosa, Luís de Magalhães e Manuel da Silva Ceio, João Penha e Luís de Castro Osôrio, Guerra Junqueiro e Jaime de Magalhães Lima, Trindade Coelho e Alberto de Oliveira, entre tantos outros. Aliás, as frequentes inscrições peritextuais das dedicatórias, que o poeta antepõe às suas obras, ou mesmo às variadíssimas composições poéticas, são bem esclarecedoras a este respeito.

Depois de concluído o curso de Direito, exerce muito temporariamente a advocacia, mas depressa abandona essa profissão, em favor da carreira diplomática. Como cônsul, inicia a sua atividade a partir de 1886, primeiro no Brasil, com passagem pelo Rio de Janeiro, e colocação no Rio Grande do Sul e em Pernambuco. Nesse país, vem a ser admitido como sócio da Academia Brasileira de Letras.

Mais tarde, em 1890, é nomeado cônsul geral em Estocolmo, na Suécia, por mais de duas décadas. Desempenhou essas funções diplomáticas com grande relevo e dignidade. Em 1900, cumpre o cargo de cônsul geral e encarregado de negócios em Estocolmo e em Copenhaga, na Dinamarca, sendo depois elevado à categoria de ministro plenipotenciário. É justamente nesse longo exílio nórdico que vem a casar, em 1900, com a sueca D. Maria Luísa Mercedes Joana Lewin (1878-1915), filha de pai sueco e de mãe equatoriana.

Datam dessa longa estada na Europa do norte os sentidos versos onde o poeta expressa a saudade nostálgica da pátria distante, com realce para a paisagem da sua Ribeira Lima, da luz e do calor, das tradições e do encanto da sua longínqua terra natal. A amada companheira da vida do poeta, mulher de proverbial beleza e encantamento, vem a falecer prematuramente, em 1915, depois de dolorosa e prolongada doença.

Não resistindo à profunda dor causada por este golpe emocional da inesperada viuvez, o próprio Feijó morre, a 20 de junho de 1917, aos 58 anos de idade. Mais tarde, os seus restos mortais, juntamente com os da esposa, são transportados de Estocolmo para Ponte de Lima (1927), em cujo cemitério repousam, à sombra da justa inscrição tumular: "O amor os juntou e nem a morte os separou".

Em síntese, António Feijó distinguiu-se como homem culto, de temperamento expansivo e espirituoso, um verdadeiro fidalgo, requintado e cosmopolita. Teve uma vida bastante discreta, profissionalmente empenhado nas funções diplomáticas para que fora nomeado; no capítulo sentimental, avulta a relação amorosa com a esposa nórdica, a cuja morte sobreviveu apenas por pouco tempo.

1.3. Como poeta, António Feijó publicou em vida várias obras poéticas, a partir do início da década de 1880 até praticamente às vésperas da sua morte. Mais concretamente, depois de outras publicações dispersas, edita o seu primeiro livro, Transfigurações, em 1882.

AÍ integra também o longo poema Sacerdos Magnus, composto e recitado em Coimbra, no ano de 1880, nos inflamados festejos nacionalistas do III Centenário da Morte de Camões, poema depois editado em 1881. Seguem-se mais dois importantes títulos: primeiro, Líricas e Bucólicas (1884), com arquitetura bipolarizada; e, logo depois, a breve composição de À Janela do Ocidente (1885).

(...)

J. Cândido Martins

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