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Figuras Populares de Ponte de Lima

20 Novembro 2009

Dantas, Luís - Figuras populares de Ponte de Lima. Ponte de Lima: Município de Ponte de Lima, 2009. p. 71. ISBN 978-972-8846-13-8

  • Preço: €8,00 (inclui o valor da taxa de IVA legal em vigor)
  • Como encomendar: contacte-nos através do e-mail: arquivo@cm-pontedelima.pt

Prefácio

Quando Miguel Torga escreveu no prefácio dos seus Contos da Montanha "Portugal precisa urgentemente de ser repovoado", não estava a referir-se a políticas de favorecimento da natalidade; o próprio autor esclarece que os novos tempos criavam homens de "almas amarfanhadas" pelo que a urgência seria de reencontrar Homens com Alma.

Estes Homens com Alma a que Torga se refere são homens que se relacionam francamente com o seu tempo e com a sua terra. Homens que se movem na vida de acordo com saberes e vontades que vêm das profundezas do tempo. Homens que são verdadeiros guardiães de valores que lhes chegam intactos, como se dum morgadio - inalienável, indivisível e transmissível à geração que se segue - se tratasse.

Mas hoje o ritmo civilizacional aumenta, os tempos mudam muito rapidamente e muitos dos comportamentos ancestrais depressa ficam desadaptados. E aqueles que os mantêm vão, pouco a pouco, afastando-se da normalidade e tornando-se excêntricos.

Estas personagens, transformam-se em verdadeiros embaixadores, vestígios do passado, resistentes ao "amarfanhar das almas" que o nosso tempo provoca.

O que torna este livro verdadeiramente especial é a capacidade de encontrar estas pessoas, no meio da multidão anónima (cada vez mais globalizada e idêntica) e de perceber que os seus comportamentos, apontados como ridículos e considerados paródicos, representam um tempo e um modo de vida que desaparece.

O autor olha-as com atenção e respeito.

É um olhar para a sua Alma.

Confesso que à medida que ia lendo estas histórias me vinha à cabeça um poema de Carlos Tê que Rui Veloso cantou:

Agita-se a solidão cá no fundo

fica-se sentado à soleira

A ouvir os ruídos do mundo

e a entendê-los à nossa maneira.

 

Carregar a superstição

de ser pequeno, ser ninguém

e não quebrar a tradição

que dos nossos avós já vem.

 

Luís Dantas fala-nos destas vidas e coloca-as num tempo que não se mede por datas, mas sim por acontecimentos: o tempo em que "um viva à Música Nova era um viva aos históricos-progressistas", ou "em que as raparigas iam buscar água à fonte", ou em que as sardinhas se vendiam "numa carroça puxada por uma pileca escanzelada, de alquité em alquité"; aqui o tempo tem um ritmo próprio que não é necessariamente o mesmo dos calendários e dos relógios.

Para nos levar nesta viagem no tempo, Luís Dantas usa um tom coloquial temperado por um domínio do vocabulário popular que lhe permite usar as palavras sem pretensiosismo, apenas porque seriam os termos utilizados naquelas situações: "Soltar a taramela"; "marralhar um par de frangos"; "bondava achar um palmo de cara"; "bródios e fanfarras"; "a trabuzana da vida"; "resmoniar da sorte"; "virar de cangalhas" e tantos outros (escrevo estes termos no computador e sorrio ao ver que a correção automática os denuncia a todos como erros...).

E que agradável é ler um livro como se estivessem a conversar connosco.

 

Recentemente o Município de Ponte de Lima editou, no âmbito do Projeto Ponte de Lima Terra Rica de Humanidade o livro Figuras Limianas.

Este livro completa essa obra, com estas figuras populares, para muitos anónimas, mas cheias de Alma e dessa humanidade que agora se celebra.

João Alpuim Botelho

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