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Mario Lucio e Simentera

Cultura
04 Ago
Adicionar a calendário 2019-08-04 22:00:00 2019-08-04 22:00:00 Europe/Lisbon Mario Lucio e Simentera Festival Percursos da Música – Ponte de Lima Largo da Alegria (Além da Ponte)

Festival Percursos da Música – Ponte de Lima

Simentera de volta aos palcos

E escrever Simentera de volta aos palcos, soa a milagre, como quando a chuva cai nas ilhas de Cabo Verde. É como se de repente Deus voltasse a dar corda ao relógio do tempo, e tudo regressasse ao seu devido lugar, após uma prolongada seca.

Originários das ilhas de morabeza e surgidos do “quase nada” nos anos 90, cada semente do colectivo “Simentera” é hoje uma das mais bonitas florestas nascidas dos vulcões do Atlântico. Não nos deixemos enganar, cada um de nós, afro ou luso descendente, faz parte de uma das mais bonitas histórias da humanidade. Partindo de uma Europa medieval manchada pela peste negra e outros desastres mais ou menos naturais, os portugueses atiraram-se ao mar, em busca de um futuro melhor. Em meados do século XV tropeçaram em dez grãozinhos de terra desabitados, que cedo se tornaram no primeiro porto da uma rota de escravos africanos.

Não começou bem, mas não poderia ter corrido melhor. Até Charles Darwin, o pai dos estudos da evolução da espécie humana, por lá passou em 1832, em busca da justa elevação de todas as cores e tons de pele, no quadro da história da humanidade. Em pleno século XXI, ainda temos todos muito que aprender com as histórias de vida, sobrevivência, resistência e de morte nas ilhas. Não conheço seres humanos mais corajosos no que diz respeito ao combate de escravatura mental pela educação em casa e acima de tudo pelas artes.

Falta água? Improvise-se com a do mar. Falta comida? Abram-se as portas das casas, que há sempre lugar para mais um prato de arroz na mesa.
E quem melhor para cantar as historias da falta de chuva, da imigração forçada para roças de café em São Tomé ou da penosa jornada pela construção de um mundo novo nas obras, ou limpeza das higienes das casas no país dos ex-colonos? Simentera pois claro.

Mario Lucio, o seu grande maestro, nasceu um rapaz que demasiado cedo conheceu a palavra orfandade, e viu-se a braços, da pesada responsabilidade, enquanto irmão mais velho, de tomar conta da sua própria família. Em vez de cruzar os braços e deixar-se “amaldiçoar” pela tragédia familiar, desenhou o seu próprio destino: aos 9 anos juntou-se ao colégio militar, comprou a sua própria educação e abriu novos caminhos para as industrias criativas das ilhas.

Mais tarde viria a ser Ministro da Cultura de seu país.

- Álbuns -

Com sua banda anterior, Simentera: Raiz (1995), Barro e Voz (1997), Simentera (1999), Tr'aditional (2002);
Solo: Mar e Luz (2004), Ao Vivo e outros (2006), Badyo (2008), Kreol (2010),Funanight (2016).
Colaborações de: Cesaria Evora, Mayra Andrade (Cabo Verde), Manu Dibango (Camarões) Touré Kunda (Senegal), Paulinho Da Viola, Gilberto Gil, Milton Nascimento (Brasil), Pablo Milanes (Cuba), Mario Canonge e Ralph Tamar (Martinica) Teresa Salgueiro, Luís Represas, (Portugal) Toumani Diabate (Mali), Harry Belafonte (EUA), Judith Sephuma (África do Sul), Wanda Baloyi (Moçambique), Oliver Mtukudzi (Zimbabué)

- Percurso Académico, politico e cultural -

Mario Lucio é graduado em Direito.
Foi deputado no Parlamento cabo-verdiano, de 1996 a 2001.
Conselheiro do Ministro da Cultura (1992) e Conselheiro Cultural do Comissário da Expo / 92.
Autor do projecto musical de Cabo Verde para a Expo 92 (Sevilha) e 98 (Lisboa) Embaixador Cultural de Cabo Verde.
Ministro de Cultura e Artes, de 2011 a 2016.

- Distinções -

Medalha da Ordem do Vulcão, pelo Presidente da República de Cabo Verde • Prémio Cubadisco do Melhor Álbum Internacional 2012 (Kreol) • Womex – Personalidade do ano, 2014 • Membro de Academia de Letras de Cabo Verde. Medalha de Mérito de 1.º Grau por relevantes serviços culturais (Governo de Cabo Verde, 2017)

- Prémios -

Prémio do Fundo Bibliográfico da Língua Portuguesa, 2000;
Prémio Carlos de Oliveira de ficção, Portugal, 2010;
Prémio Miguel Torga – Cidade de Coimbra 2015:
Prémio PEN Clube de Literatura para melhor Romance em Português, 2016.

- Escritor. Poeta e Dramaturgo -

Publicou: Nascimento de Um Mundo (poesia, 1990); Sob os Signos da Luz (poesia, 1992); Para Nunca Mais Falarmos de Amor (poesia, 1999); Os Trinta Dias do Homem mais Pobre do Mundo; Vidas Paralelas (2002); O Novíssimo Testamento; Biografia do Língua Escreveu: Adão e As Sete Pretas de Fuligem (2001). Sozinha No Palco (2004). Vinte e Quatro Horas na Vida de um Morto (2006), Um Homem, Uma mulher e um Frigorífico (2007), Adão e Eva (2012).

Tété Alhinho, filha de pai alentejano e mãe Mindelense, é a caçula de umas das mais bonitas histórias de amor sem cor do século XX. Reconhecida e inacreditavelmente, Tété é a segunda mulher da história da musica de cabo-verde, a compor mornas no seu formato mais clássico. É portanto, discípula de Dona Tututa, pianista do Mindelo, e nome maior na história da emancipação da mulher caboverdiana, no seu núcleo familiar.

Muitas histórias poderíamos contar sobre os outros membros da banda

Profundas são as raízes de cada semente desta Simentera. Grupo de trabalho, que recupera cantos de trabalho esquecidos de Santo Antão.

Celebra a chegada da chuva e faz mesmo chover em concertos, não esquece a fome de 47 e relembra-nos o luxo que é simplesmente podermos ter água na torneira em casa. Sem falsas modéstias, só a doçura da morabeza poder-nos-á ajudar a curar maleitas em tempos sombrios. Quem nunca comeu uma cachupa caseira, nem tomou um grogue com os homens mais velhos da aldeia, ainda tem muito para aprender sobre amor, carinho e educação.

Aqui não há manias ou exercícios de estilo; há sim batuques, coladeras, mornas ou até coros sul-africanos, na singular celebração da vida e elevação da alma.

Com pouco tudo se faz. E não será essa a maior riqueza da nossa herança cultural?

Não estamos, portanto, na presença de mais um regresso aos palcos. Estejamos sim agradecidos por poder voltar a presenciar, reviver ou simplesmente descobrir, História a revelar-se à nossa frente.

Programa do Concerto

0. INTRO
1. HONONO
2. NHA CANSERA
3. APILI
4. FOMI 47
5. DOR DI AMOR
6. LAMENTO DE UM EMIGRANTE
7. RAMBOIA
8. TABANKAMOR

Horário:

22h00

Local:
Largo da Alegria (Além da Ponte)
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